Simondon encontrou na teoria quântica um apropriado correlato empírico para seu esquema metafísico. A dualidade persistente e irredutível entre onda e partícula, argumentou ele, decorre de nossa tentativa de descrever um regime pré-individual usando conceitos adequados apenas para realidades plenamente individualizadas. Nessa perspectiva, o fenômeno quântico não é uma "coisa" travestida de onda ou partícula. Ou melhor, é o processo da própria individuação, vislumbrado em resolução intermediária. A troca de energia em "quantidades elementares" (quanta) sugere uma "individuação da energia" dentro do campo relacional entre entidades.
A famosa complementaridade onda-partícula, articulada por Bohr, é, portanto, a "reverberação epistemológica" da metaestabilidade original do real. Cada observação ou interação é uma operação específica que "desfaseia" o pré-individual, forçando uma resolução em uma das fases fenomenológicas (ondulatória ou corpuscular) que nossos instrumentos e conceitos conseguem captar. Isso levou Simondon a favorecer interpretações deterministas e realistas da mecânica quântica, particularmente a "teoria da solução dupla" de Louis de Broglie. De Broglie propôs inicialmente que uma partícula é uma singularidade dentro de um campo de onda físico real (onda U). Este modelo apresenta uma única realidade física — a onda singular — que fundamenta simultaneamente os fenômenos corpusculares e ondulatórios. Para Simondon, isso era filosoficamente superior à interpretação ortodoxa de Copenhague, que trata a função de onda contínua (onda Ψ) como uma mera ferramenta matemática representando um conhecimento probabilístico que se desfaz diante da medição subjetiva de um observador. Ele considerava que a visão ortodoxa concedia erroneamente privilégio à partícula como uma "unidade já individualizada", recaindo em uma forma de atomismo. Em contraste, o modelo de De Broglie (posteriormente desenvolvido na mecânica de Bohm) descreve uma partícula sendo guiada por uma onda piloto real, oferecendo uma explicação contínua, determinística e fisicamente realista que evita o misterioso "colapso da função de onda".
Simondon criticou a interpretação ortodoxa por tender ao "subjetivismo" ou ao "idealismo", ao tornar o estado da realidade dependente do conhecimento do observador. Uma visão contrastante, como observado nas discussões sobre características "relativas ao observador", aceita que, na mecânica quântica, propriedades como o spin de uma partícula não são intrínsecas até que ocorra uma interação de medição. Antes da medição, a superposição é uma característica intrínseca do mundo; depois, o valor definido é relativo ao observador. Em direção convergente, o filósofo Jeff Buechner argumenta que todas as propriedades físicas são inerentemente relacionais: uma variável (como o spin) assume um valor apenas em relação a outro sistema com o qual interage, não em um sentido absoluto. Isso não é considerado subjetivo, pois o "observador" pode ser qualquer sistema físico, não uma mente consciente.
Do ponto de vista de Simondon, essa visão relacional pode ir mais além. Embora ele concorde que a realidade é fundamentalmente constituída por relações e processos, sua ontologia está calcada em um campo pré-individual, trans-relacional. As propriedades relacionais que emergem são fases de sua defasagem. Ele buscava uma descrição onde o processo físico (a onda singular que guia a partícula) é ontologicamente anterior e independente de qualquer relação observacional particular, mesmo que apenas se torne manifesto por meio de tais relações.
