Ontem passei o dia rabiscando com lápis de cera sobre folhas de papel A4, tentando transpor para um diagrama a Psicologia dos Sentimentos de Gilbert Simondon. Começa-se por uma forma do indivíduo dividida em três partes: consciente, inconsciente e a camada de subconsciência afetivo-emotiva. As ações advém do inconsciente; representações delas afloram no consciente. Mas o que está no comando é a camada de subconsciente que, além de intermediar as duas, articula os fluxos de carga pré-individual ao indivíduo. Ficamos sabendo que tais fluxos são primeiramente controlados pelo bloco de afecções, que espiritualiza-se no processo, tornando-se "estado autoentretido" na forma de emoção. Nessa condição, a emoção precisa extravasar-se no coletivo, mas para tanto precisa recorrer ao bloco de ações, que, na verdade, não é bem um bloco, mas um invólucro desse sistema, podendo operar internamente também ("... se um sentimento pode causar uma autotransformação por intermédio das ações e pensamentos que ocasiona, ou se, nesse discurso sobre a ‘atuação’ de um sentimento, há algo de impróprio e dito não muito a sério, como se se dissesse que a laminação de uma chapa ‘causa’ seu adelgaçamento, ou uma extensão das nuvens o encobrimento do céu ..." - Musil). As folhas de papel A4 vão ficando demasiadamente coloridas, cores extravasam-se, misturam-se; contornos borram-se. Não é possível diagramatizar tal psicologia. O bloco da ação, anteriormente sólido, é substituído pelo das sensações, porque são fenômenos de um pluriverso que, em movimento de tropismo, condensa-se em percepções. Assim como o bloco de afetos, por meio de devir, condensa-se em emoções. Tudo é parte de um programa de espiritualidade. Foi assim que, ao me deparar com o vídeo de biologia digital especulativa criado por Sage Jenson, pensei ter encontrado um diagrama semovente coerente com o projeto de Simondon.